Um homem, cuja identidade está sendo mantida sob sigilo porque não teve a prisão determinada pela Justiça até o momento, afirmou que, entre diversas notas frias emitidas para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru, a pedido do então presidente Roberto Franceschetti Filho, uma delas chegou a R$ 150 mil. Deste valor, referente a uma prestação de serviços, ele afirma ter tirado sua parte — quantia ínfima em relação ao montante —, recolheu impostos e repassou cerca de R$ 130 mil em dinheiro vivo ao principal responsável pela instituição, na época.
Esse e outros valores, segundo ele, sempre foram entregues fora da instituição. A informação consta de depoimento formalizado por ele ao delegado Glaucio Stocco, titular do Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold), conforme noticiaram ao vivo os jornalistas Alexandre Colim e Douglas Willian, no programa Cidade 360º, uma parceria do JC/JCNET e rádio 96FM.
Nesta terça-feira (29), a delegacia especializada cumpriu novos mandados em mais um desdobramento do "Caso Apae", que apura desvios financeiros da entidade, descobertos a partir do desaparecimento e homicídio presumido pela Polícia Civil da então secretária-executiva Claudia Regina Lobo, em 6 de agosto de 2024
O homem entrevistado pelo programa Cidade 360º, que é investigado pela Polícia Civil, disse sentir-se enganado pelo então presidente da Apae. Ao falar com a reportagem, acrescentou que, ao acolher os pedidos de Franceschetti, imaginava ajudar a entidade. A Polícia Civil pediu a prisão dele, mas a Justiça não acatou.
A reportagem tentou, em vão, contato com os advogados do então presidente da Apae na época neste inquérito - que não são os mesmos defensores no processo relativo ao desaparecimento de “Caso Claudia”. O JC/JCNET segue à disposição para acrescentar um posicionamento.
Relembre o caso
Investigações conduzidas pelo Seccold apontaram que, em cinco anos, mais de R$ 7,5 milhões foram desviados dos cofres da Apae. Desse total, R$ 5,8 milhões teriam sido retirados por Franceschetti Filho (que está preso desde 15 de agosto do ano passado e se tornou réu pelo homicídio e ocultação de cadáver), e R$ 1,8 milhão por Claudia Lobo.
Além do ex-presidente da Apae, há outros oito réus no caso dos desvios, incluindo familiares de Claudia, que teriam sido beneficiados pelas atividades ilícitas envolvendo recursos da instituição. Essas nove pessoas respondem pelos crimes de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro.
Segundo o Seccold, os delitos envolvem superfaturamento de contratos, emissão de notas frias para justificar a movimentação de valores entre os envolvidos, pagamento de salários a funcionários fantasmas, empréstimos de dinheiro da entidade a terceiros com cobrança de juros e recebimento de recursos da instituição por meio de uma conta bancária paralela, além de transferências diretas registradas na contabilidade como bonificações ou "adiantamentos ao fornecedor".
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