Israel anunciou nesta quinta (3) ter matado o chefe do governo do Hamas na Faixa de Gaza, Rawhi Mushtaha, ao lado de dois outros membros da cúpula do grupo terrorista cujo ataque há um ano contra o Estado judeu jogou o Oriente Médio em uma guerra que cresce diariamente.
Mushtaha, o ministro da segurança Sameh al-Siraj e Sami Ouded, comandante do sistema prisional do Hamas, foram alvejados por caças israelenses em um bunker no norte de Gaza há três meses, segundo as Forças Armadas de Tel Aviv.
O Hamas não comentou o episódio, como em outras ocasiões. Seu líder supremo, Yahya Sinwar, não é visto há semanas, segundo militares israelenses, estando provavelmente escondido em túneis com reféns tomados no ataque do 7 de Outubro.
O grupo está desarticulado. Na quarta (2), uma comitiva do Hamas no exílio se encontrou no Cairo com membros do Fatah, a facção que comanda a Autoridade Nacional Palestina, para o que o dirigente Wassel Abu Youssef havia definido à Folha de S.Paulo como mais um passo para anunciar um governo de consenso após um cessar-fogo.
A ação mostra a renovada ofensiva de Israel sobre o território, com ataques diários e suas consequentes mortes de civis. Até aqui, o Hamas conta 41,6 mil mortos, mas não separa combatente de morador; Israel calcula ter matado ou prendido cerca de 20 mil integrantes do grupo.
A guerra regional, que ganhou contorno de realidade desde que o governo de Binyamin Netanyahu passou a atacar o Hezbollah libanês com mais intensidade, matando seu líder assim como havia assassinado o chefe do Hamas, segue em curso.
A dúvida no ar é sobre os patronos dos dois grupos, os iranianos. Após o forte ataque com mísseis balísticos contra Israel na terça (1), a expectativa é de que Israel ataque a infraestrutura petrolífera do país ou, se decidir ir para a escalada total, suas instalações de processamento de material nuclear.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, voltou a dizer que qualquer retaliação de Israel receberá uma "resposta decisiva".
A esta altura, a guerra iniciada pelo Hamas está mostrando um Israel na ofensiva. O Hezbollah vinha tocando uma guerra de atrito de baixa intensidade, com escaramuças diárias que levaram 60 mil israelenses a deixar suas casas no norte do país. Houve alguns momentos de maior embate, mas só agora Netanyahu resolveu encarar o rival com quem travou uma guerra em 2006.
Nesta quinta, os israelenses bombardearam Beirute, deixando ao menos nove mortos. O ataque atingiu o coração da capital libanesa, próximo de diversos prédios do governo. Posições do Hezbollah foram atacadas também no sul do país, onde a invasão terrestre de Israel está nos seus primórdios.
A crise jogou o país árabe, com longa história de disfuncionalidade política, numa crise aguda. O governo interino conta 1 milhão de refugiados e quase 2.000 mortos desde o 7 de Outubro, a maioria nessas duas últimas semanas.
Após sofrer as primeiras baixas oficiais na quarta (2), com oito mortos, o Estado judeu disse que ao menos 15 combatentes do Hezbollah morreram em choques diretos com suas forças nesta quinta.
Ao mesmo tempo, confirmando a ampliação regional do conflito, Israel foi acusado pela Síria de atacar um depósito de armas na província de Latakia. A ação, que não foi comentada como de praxe por Tel Aviv, levantou sobrancelhas em Moscou: ocorreu numa área próxima da base russa de Khmeimim.
Quando interveio na guerra civil local em favor do ditador Bashar al-Assad em 2015, Vladimir Putin expandiu sua presença militar e estabeleceu um QG naquela unidade. Os russos incrementaram também as instalações do porto de Tartus, onde já tinham direito de uso desde o tempo em que o pai de Assad, Hafez, era grande cliente da União Soviética.
Rússia e Israel se estranharam várias vezes, inclusive com a derrubada acidental de um avião de Moscou pelos sírios em meio a um ataque de Tel Aviv. No geral, apesar de Putin ser aliado do Irã e de seus prepostos, havia um nível de coordenação razoável entre os países em suas operações regionais.
Um acordo tácito impede russos de usarem seus sistemas antiaéreos S-300 e S-400 contra aviões de ataque de Netanyahu, por exemplo. Se o bombardeio desta quinta atingiu alguma instalação de Moscou, o caldo do agravamento do conflito irá engrossar.
Houve também explosões relatadas perto de Damasco. Os israelenses não falam sobre isso, mas sua tática é buscar impedir o reforço do Hezbollah pelo envio por terra de armas do vizinho.
Em outra frente, Israel disse que derrubou dois drones na região central do país. Os houthis do Iêmen, rebeldes apoiados por Teerã, reivindicaram a autoria da tentativa de ataque contra Tel Aviv.
No mais, os alertas de ataques do Hezbollah seguiram ao longo de toda a manhã, com mais de 45 projéteis sendo atirados contra o norte israelense.
Fonte(s): Jcnet
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