Três pessoas morreram e outras três ficaram feridas em confronto entre policiais militares e traficantes durante operação no Complexo de Israel, zona norte do Rio de Janeiro. A ação bloqueou por cerca de duas horas a avenida Brasil, uma das principais vias da cidade, e impactou a circulação de trens e linhas de ônibus na manhã desta quinta-feira (24).
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), se solidarizou com as vítimas e classificou o episódio como ato de terrorismo. Ele pediu ajuda do presidente Lula (PT) e ao comando do Senado e da Câmara dos Deputados para enfrentar os problemas da segurança pública no estado.
As três vítimas morreram com tiros na cabeça.
O motorista de aplicativo Paulo Roberto de Souza, 60, estava trabalhando dentro de seu carro quando foi baleado. O passageiro então assumiu o veículo e dirigiu até uma cabine policial. De lá, Paulo foi levado até um hospital em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mas já estava morto quando chegou.
Morador de Nilópolis, também na Baixada, ele era casado e deixa dois filhos e dois netos. " Saiu cedo para trabalhar, uma pessoa honesta, trabalhadora, e acontece uma tragédia dessas. No Rio de Janeiro é isso aí", disse o amigo de Paulo, Júlio dos Santos da Costa.
Outra vítima é Renato de Oliveira, 48. Ele foi atingido dentro de um ônibus. Seu amigo Adonias dos Santos, 39, estava no banco da frente e contou que eles saíram de Nova Iguaçu, na Baixada, para trabalhar em um frigorífico no Rio.
"A nossa vida é um piscar de olhos... quem vai sustentar os filhos dele? Poderia ter sido eu. A bandidagem sai atirando. A vida de um pai de família... e agora? Ficamos sem chão. Ele estava dormindo e nem viu nada", disse Santos.
Oliveira foi socorrido e levado para o Hospital Geral de Bonsucesso, onde passou por cirurgia, mas não resistiu. Ele deixa dois filhos e a esposa.
A terceira vítima foi identificada como Geneilson Eustáquio Ribeiro, 49, motorista de caminhão de frete. Ele foi socorrido por motociclistas e também passou por cirurgia, mas não sobreviveu.
Quanto aos feridos, uma mulher de 24 anos baleada na coxa seguia com quadro estável nesta quinta-feira. Um homem ferido no antebraço foi atendido e liberado. Outro, atingido por disparo no glúteo, estava em observação. Apontado como suspeito, ele foi preso e seguia sob custódia.
A ação da PM mirava roubos de veículos e cargas nas comunidades Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau, onde criminosos incendiaram barricadas.
Devido ao confronto, por volta das 7h, a avenida Brasil foi bloqueada no sentido zona oeste, a partir do BRT Cidade Alta, e no sentido centro, na altura do viaduto de Vigário Geral.
Em meio ao congestionamento que se formou na via, pessoas saíram dos carros e se abrigaram atrás de muretas para se proteger dos tiros. Um vídeo que circulou nas redes sociais mostrou passageiros abaixados dentro de um ônibus. A avenida foi liberada às 10h32.
Segundo o Rio Ônibus, ao menos 20 linhas foram impactadas com o fechamento da Avenida Brasil.
"Mais um dia em que o direito de ir e vir dos cariocas é comprometido pela falta de segurança pública. Apelamos às autoridades para que tomem as devidas providências e garantam o direito básico de deslocamento", afirmou, em nota, o sindicato das empresas de ônibus da cidade.
A porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro, tenente-coronel Claudia Moraes, afirmou que a operação no Complexo de Israel foi planejada, mas que a corporação não tinha dados de inteligência para reagir aos criminosos.
"A operação foi previamente organizada. O que os policiais encontraram naquela localidade foi algo que estava além do que normalmente encontrávamos nessa região. A gente não tinha dados de inteligência para essa reação", disse Moraes em entrevista coletiva.
A resistência dos criminosos, considerada inesperada pela PM, levou o comando a recuar e deixar a comunidade. Uma viatura foi atingida por cerca de 20 tiros.
"O recuo foi por entender que, naquele momento, o mais importante era manter a segurança das pessoas que estavam circulando na via. Não foi porque não tínhamos condições de continuar com a operação. Mas, considerando o que estava ocorrendo ali, tomamos a decisão estratégica de recuar. Mas isso não quer dizer que a PM esteja fragilizada em relação ao tráfico de drogas ou aos criminosos dessa região", acrescentou.
A porta-voz disse que os criminosos "vêm criando novas estratégias" e classificou a ação como terrorismo.
"Nós já vimos indivíduos descendo, parando ônibus, mas criminosos atirarem contra pessoas assim a gente nunca tinha visto. É uma atuação de nível de terrorismo que leva pânico à população. Isso mostra o grau de complexidade que vamos enfrentar daqui para frente", afirmou.
Após o episódio, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou que precisa da ajuda do presidente Lula (PT) e do comando do Senado e da Câmara dos Deputados para enfrentar os problemas da segurança pública no estado.
Castro se solidarizou com as vítimas e também classificou o episódio como ato de terrorismo. "Nos últimos meses, foram pelo menos 15 ações que não tiveram nada similar a isso. Foi um ato de terrorismo. Não dá para classificar de outra forma", afirmou.
As declarações foram dadas em entrevista coletiva após reunião com a cúpula da segurança pública do Rio, que contou com a presença dos secretários de Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes, de Polícia Civil, Felipe Curi, e de Segurança Pública, Victor dos Santos.
O governador prometeu "uma resposta dura das polícias", mas reiterou que precisa de ajuda do governo federal.
"Temos que deixar claro que não dá para fazer sozinho. Queria fazer um apelo ao presidente Lula, que ouça os governadores. Se não der para ouvir todos, pelo menos Rio, São Paulo e Bahia, onde essas máfias estão fortes", disse. "Estamos falando de tráfico internacional de armas, de drogas. Isso é de competência federal. Precisamos da colaboração, da escuta, para que nosso trabalho tenha efetividade", completou.
O confronto nas proximidades da estação de trem de Cordovil afetou o ramal Saracuruna, que passou a operar apenas entre Central do Brasil/Penha e Duque de Caxias/Saracuruna, com intervalos de 30 minutos. As estações Penha Circular, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas e Vigário Geral foram fechadas, segundo a SuperVia, como medida de segurança para passageiros e funcionários.
Escolas e unidades de saúde fechadas
De acordo com a Secretaria de Estado de Educação, uma escola estadual foi fechada na região. Já a pasta municipal relatou que 16 escolas foram impactadas, sendo oito na Cidade Alta, cinco em Vigário Geral e Parada de Lucas e três nas comunidades Cinco Bocas e Pica-Pau.
Serviços de saúde também foram afetados. O CMS (Centro Municipal de Saúde) Iraci Lopes e a Clínica da Família Heitor dos Prazeres ativaram o protocolo de segurança e suspenderam o atendimento. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, em 2024 já são 900 os registros de fechamento temporário de equipamentos por causa da violência.
Fonte(s): Jcnet
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