O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nessa terça-feira (22) que temas discutidos durante as eleições dos Estados Unidos poderiam afetar as perspectivas de inflação para o país, o que, por tabela, impactaria mercados emergentes.
"Quanto você olha para os Estados Unidos, temos três dimensões: imigração, tarifas e o fiscal. As três são inflacionárias. O que nos preocupa no mercado de emergentes é que o efeito do que está sendo falado durante a eleição aponte para maior inflação nos EUA. Se for esse o caso, as taxas [de juros] nos EUA não cairiam tanto quanto poderiam, o que influenciaria os emergentes", disse ele em entrevista à emissora CNBC, em Washington.
O candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, por exemplo, propõe aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.
As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo.
Campos Neto também afirmou, por outro lado, que vê impacto o impacto do pleito nos EUA com cautela.
"Não tenho tanta certeza de que as eleições vão influenciar tanto os mercados, sou mais cético quanto a isso", disse.
O presidente do Banco Central também afirmou que o mundo enfrenta notícias "não muito boas" relacionadas à produtividade, e que o endividamento global está alto. A "boa notícia", segundo ele, seria o crescimento brasileiro nesse cenário.
"Se as taxas estão tão altas, como as condições financeiras não estão restritivas o suficiente para impedir a economia de crescer?", afirmou. "Parte se deve ao fiscal, mas parte vem mudanças estruturais que nos permitiram estar na posição."
Campos Neto também afirmou que enxerga volatilidade no mercado dos EUA, e que o Banco Central trabalha com a expectativa de um pouso suave da economia americana.
"Fomos de 'no landing' [sem pouso, quando a economia segue aquecida] para 'hard landing' [pouso forçado, com recessão] em cinco semanas. A percepção é mais volátil que a realidade, mas nossa percepção é de 'soft landing' [pouso suave]", disse
Na mesma entrevista, o presidente do Banco Central voltou a dizer que o Brasil precisa de "choque" na área fiscal para ter chance de abaixar a taxa básica de juros. Ele havia feito pronunciamento similar na segunda-feira (21), em evento com investidores em São Paulo.
Fonte(s): Jcnet
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